terça-feira, 4 de outubro de 2011

Projeto Parque da Tamarineira

PROPOSTA VENCEDORA DO 1º LUGAR DO CONCURSO NACIONAL DE PROJETOS PARA IMPLANTAÇÃO DO PARQUE DA TAMARINEIRA 
 Memorial Descritivo

Referência nacional em serviços psiquiátricos desde fins do século XIX, o Hospital Ulisses Pernambucano e seu lote densamente arborizado confundem-se com a história e a paisagem da Zona Norte do Recife. A evolução dos estudos médicos, as exigências da Reforma Psiquiátrica e o interesse de diversos setores da sociedade em apropriar-se daquele espaço levam este conjunto a um momento de transformação: o Parque da Tamarineira, agora desapropriado, tem o compromisso de abrir-se à cidade, desmistificar a loucura e oferecer à população lazer, cultura e educação ambiental, tudo isto convivendo com atividades hospitalares.



A fim de evitar a segregação espacial e garantir comunicação fluida e direta, as intervenções realizadas buscam clarificar a leitura do Parque e das construções históricas mais significativas através da remoção de barreiras e anexos sem qualidade arquitetônica. Dois grandes eixos se estendem desde a entrada principal do Parque até a Matinha, funcionando como largos passeios públicos. Entre estes eixos, um labirinto de vegetação arbustiva faz alusão à complexidade dos mistérios da mente humana e constitui-se num expressivo elemento visual e paisagístico do projeto. Sua estrutura abrigará obras de arte, bancos, espelho d’água e peças interativas que estimularão o caminhar e a descoberta.

Campanha de um Hospital Psiquiátrico - África do Sul


Perspectiva frontal do Parque

Extensos gramados remontam a antiga atmosfera de Sítio, de Pomar Urbano, enquanto playgrounds e equipamentos destinados à prática de exercícios físicos dão dinâmica aos diversos setores do Parque. O edifício do antigo CPTRA foi transformada na Casa do Bem Estar, com atividades para Saúde Integral e a Casa Paroquial, em uma livraria e lanchonete.


Para o setor hospitalar, a solução proposta foi a criação de um "Corredor da Saúde" voltado aos enfermos do CPTRA, da Emergência Psiquiátrica do Hospital Ulysses Pernambucano e ao Hospital Helena Moura. Este núcleo voltado à Av. Cônego Barata compreendendo três novos edifícios. O 1º e o 2º são intervenções em ruínas existentes onde funcionará a nova emergência e o 3º servirá ao CPTRA, com dois pavimentos e um estacionamento semi-enterrado com capacidade para 124 vagas para atender ao Parque, apesar de não possuir ligação direta ao Hospital.

Perfil dos edifícios históricos e novo conjunto hospitalar à esquerda

O principal conjunto arquitetônico, obra do arquiteto francês Victor Fournié, construída entre 1874 e 1883, possui 4 blocos organizados em cruz com espaçamentos em suas extremidades. Esses blocos serão restaurados e abrigarão os seguintes equipamentos:

- Museu da Tamarineira, que exibirá ao público a história do antigo Hospital, além de peças da Santa Casa de Misericórdia;
- Museu Sensorial de Arte Contemporânea, que abrigará exposições relativas às temáticas entre arte, corpo e mente;
- Centro de Convivência de Saúde Mental, espaço previsto no plano de Reforma Psiquiátrica;
- Salas para atividades vinculadas às Universidades;
- Cinemateca;  
- Biblioteca;
- Auditório (175 pessoas); e
- Pavilhão da Sustentabilidade.

Este último e novo edifício, construído nas proporções de seu traçado original, além de abrigar exposições sobre sustentabilidade e meio ambiente, será um exemplo prático de construção sustentável, tendo sido planejado com base na metodologia de avaliação ambiental de edifícios LEED - Leadership Environmental Energy Design.




Exemplo de fechamento móvel em painéis de bambu

Pátio Central

A sustentabilidade foi um aspecto que permeou este projeto como um todo. A área posterior, chamada Matinha, é um exemplar valioso na cidade onde a biodiversidade se manteve preservada durante décadas. Dessa forma, a área será palco de um programa de educação ambiental, onde haverá uma passarela de madeira que conduz ao observatório elevado, o qual servirá também como apoio às atividades educativas. Preservando as árvores existentes, foram criadas trilhas, estrutura para arborismo, sementeira e composteira no local para tratamento dos próprios resíduos.

Estrutura de passeio acima do solo natural - preservação da Matinha
Foi observado em visitas e estudos da área que o Sítio da Tamarineira possui uma característica que não se pode ocultar - a presença de um corpo dágua e de áreas alagadiças, assim como foi no passado.

“O sítio escolhido chamava-se Tamarineira, no Lugar Matinha, freguesia da Graça (...). Patrimônio dos órfãos da Santa Casa, ocupava uma área arborizada em parte e em parte alagada”. Oração do psiquiatra, Ulysses Pernambucano
  Área alagada após chuvas de julho em 2011
Canal sub-dimensionado atravessa o sítio, ora embutido, ora aparente
O que em princípio pareceu ser um problema tornou-se um dos partidos do projeto uma vez que a proposta foi a reabertura do canal hoje embutido, chamado Jacarezinho, através de sua requalificação, despoluição de suas águas e redesenho da paisagem conforme seu traçado original, ou seja, em solo natural e vegetado.

Exemplo bem sucedido de revitalização de um canal urbano em Seul
Ao longo do “Riacho do Jacarezinho” um passeio, acessível e em desenho universal, interliga os acessos da Av. Rosa e Silva ao acesso da Av. Norte intercalado por pérgolas de madeira e bambu. O muro que limita o Parque neste trecho recebeu tratamento através de jardins verticais e painéis para instalações artísticas nas quais seriam registradas as conquistas socioambientais da população através dos tempos. Neste “Corredor da Cidadania” a conquista da Tamarineira merece especial destaque, uma vez que se trata de um dos mais importantes marcos históricos do avanço da consciencia socioambiental no Recife.
Abraço à Tamarineira em manifesto contra a construção do shopping em 2010 
Sob o aspecto urbanístico, o Parque Público da Tamarineira deverá fazer parte da rota de integração de parques, prevendo a ampliação da rede pública de parques e sua conexão com o Plano de Parques Municipal e o Projeto Capibaribe Melhor. Sugere-se a criação de rotas lindeiras à margem norte do Capibaribe, associadas e compartilhadas a modais não motorizados, o que inclui a melhoria da circulação de pe­destres e o incentivo ao uso de bicicletas como equipamento de deslocamento. O foco principal desta integração é promover melhoria significativa na qualidade de vida e estimular a apro­priação do espaço público pela população recifense.

 


Este texto foi escrito pelos integrantes da equipe autora do projeto vencedor do concurso:
Carmen Cavalcanti, Celso Vinícius, Christoph Jung, Luciana Raposo, Manuela Maia e Mariana Ribas






Implantação do Parque

3 comentários:

  1. Bravo, Luciana e toda a equipe que planeja o nosso Parque! Valeu a luta! Espero acompanhar aqui os próximos passos da execução do projeto.

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    1. Lucia, vc também está de parabéns como vizinha da área e cidadã recifense responsável e consciente de seu papel nesta sociedade que queremos transformar. Este projeto foi uma conquista de todos e lutaremos por sua execução tal qual foi idealizada, com toda atenção e cuidados que a intervenção merece. Aliás, que o Recife merece!

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  2. Luciana, possuo empresa de consultoria industrial e gostaria d conversar contigo sobre trabalhos na área ambiental.peço me escrever ou me ligar: Mauro - 9480-3678 ou jmauro.cabral@yahoo.com.br.

    Abcs.
    Mauro.

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