terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Tamarineira e o Futuro da Cidade - Parte II

Neste sábado, a caminho do Parque Dona Lindu para receber o prêmio de 1º lugar do Concurso Nacional de Projeto para implantação do Parque da Tamarineira, emoção, ansiedade e euforia tomavam conta de mim, nem dirigir conseguia, falar...muito mal... tudo passava na minha cabeça ao mesmo tempo após o telefonema de Manu:  “Lu, vem logo para cá, o nosso painel está bem na frente, eu acho que a gente vai ganha...” Ai ai...coração a mil e ainda a caminho recebo a confirmação: “É 1º lugar!!! É 1º lugar!!!” Haaaaaaaaaaaaaaaaa!!! (Gritos)
Neste loooooongo caminho até BV voltei no tempo e me senti novamente naquela primeira reunião com os Amigos da Tamarineira, em março de 2010 quando eu e Carmen adentramos pela primeira vez aqueles obscuros portões... Mal sabíamos que um novo destino para aquela área estava ali se desenhando... e para nós também.
Saí de lá tão surpresa e sensibilizada com tudo o que vi e ouvi, que na mesma noite escrevi um email para alguns amigos como forma de desabafo (ver pôster anterior). Ocorreu, contudo que o artigo ganhou repercussão em massa tendo sido publicado em blogs e mídias sociais.
Por  acidente, ou destino, me tornei ativista do movimento, tendo participado de reuniões, audiência pública e organizado eventos e campanhas contra a construção do shopping e a favor de um parque público que não excluísse as atividades de saúde.

A cada dia, inúmeros emails chegavam a minha caixa. A maioria para apoiar o movimento, outros para criticar, acusar e dizer que tudo aquilo era só perda de tempo. Enfim, como tempo era meu, o empreguei como bem entendi e não me arrependo. Ver a cidade se mobilizando, discutindo, se posicionando já era uma conquista. Foi quando comecei a acreditar de fato em uma mudança de postura
No dia 5 de junho os “Amigos da Tamarineira” organizaram um evento no local com o objetivo de reforçar a causa em plena Semana do Meio Ambiente. Na véspera deste dia, contudo, em evento aberto ao público, no Parque da jaqueira o Prefeito do Recife anunciou, em ato histórico, a desapropriação da área e o lançamento de um concurso público para a construção de um parque com base no desejo da sociedade #oDonaLinduEnsina!

No meio daquela gritaria, só ouvia a voz de Pat Vasconcellos em resposta ao anúncio: “ E quem vai ganhar é Luciana Raposo!!!” hehhehehehehe É claro que estávamos todos muito felizes e que com certeza seríamos candidatos ;) Para fechar com chave de ouro, o que era mais um evento de reação, tornou-se uma grande confraternização. A idéia era lermos um manifesto de cobrança ao poder público que se mantinha ausente até então, mas em vez de reinvidicações, estávamos todos comemorando a conquista da cidade harmoniosamente ao som da linda música dos Meninos do Coque. Foi um momento histórico e de muita emoção. O recifense acostumado a apenas criticar e desacreditar de nossas causas comuns teve naquela ocasião um bom exemplo para resgatar seus valores como cidadão.
By ICONO DESIGN

Apenas um ano depois o concurso foi relançado. E em  junho de 2011, enfim, abriram as inscrições. Aquela altura já tínhamos formado uma equipe de primeira linha. Além de mim e Carmen, minha sócia e também gestora ambiental e Manu, nossa parceira e também estudiosa da arquitetura sustentável, juntaram-se a nós Mariana Ribas, aqruieta urbanista, minha chapa desde o tempo da FAUPE, Celso Vinícius, um jovem arquiteto experto em concursos e seu amigo Chris, um paisagista alemão tão competente o quanto. Além dos arquitetos também tivemos várias contribuições de profissionais de áreas distintas, uma vez que a abordagem do trabalho foi multidisciplinar.

Começamos com reuniões semanais lá no escritório e quanto mais se aproximava o prazo, mais intensos ficavam nossos encontros. Aquela altura eu já tinha arengado um monte com Chris, Mari Ribas quase surta para terminar a correção de sua dissertação paralelamente ao concurso, enquanto Celso e Manu  permaneciam centrados como sempre...  E haja desenho, haja debates, pesquisas, visitas, idéias que vão, idéias que voltam... “Essa Tamarineira ainda vai me enlouquecerrrrrrrrrr”...



Na última madrugada, Chris, Mari e Celso amanheceram  trabalhando na casa de Celso. Às 8h estávamos na gráfica para plotar as benditas pranchas e só às 12h56 elas chegaram ao IAB. Yu-huuuuuuuuuuuuu!!! Dever cumprido, agora é só esperar...
Ai, ai, quem disse... fechava os olhos e ainda me via lá dentro. Emendei o turno e ainda fui dar aula até às 10 da noite...Zzzzzzzzzzzzzzz
Noooooooooossa foi uma experiência muito intensa mesmo! Não sei sobre os resultados e idéias dos colegas, mas creio que ninguém viveu a Tamarineira como nós...assim tão no limiar da loucura hehehee :)
Mergulhar na história da Tamarineira foi como percorrer a área através de décadas descobrindo o sentido de cada tijolo que a compõe, de cada árvore que lá está. O resgate de uma memória tão peculiar, resguardada por grades e portões, se desvendou á nossa frente durante este período sob o desafio de captar tais registros e transformá-los em unidade visual e soluções práticas.




Diante deste contexto, a nossa proposta de projeto foi elaborada com base em necessidades reais e no desejo do cidadão recifense quanto ao destino do espaço proposto. Sendo assim, foram trabalhadas soluções em nível do espaço urbano e sua conectividade, do paisagismo e da relação da população com a ecologia urbana e da arquitetura como veículo para melhoria da qualidade de vida de uma cidade. (ver post  memorial proposta)

Compilando diversas disciplinas, necessidades e administrando conflitos, esta proposta reflete o que o Recife deseja para o futuro de suas gerações: respeito, consciência, cuidado. Este é o papel da arquitetura, do paisagismo e urbanismo: melhorar a qualidade de vida das pessoas.


Trabalhar a 12 mãos não foi fácil, mas não posso imaginar este projeto com o mesmo resultado se a equipe não tivesse sido exatamente do jeito que foi. Todos foram imprescindíveis! Agradeço de coração aos meus colegas por suas contribuições e empenho. Agradeço a todos os que acreditaram em nós desde o começo. À minha filhinha Luna porque há tempos prometi este Parque a ela (como símbolo às futuras gerações) e à minha mãe, Fátima Raposo, que sempre me impulsionou a ser melhor, a lutar, a acreditar... mesmo quando todo mundo achava impossível ... Continuamos e Vencemos!

O melhor de tudo é que esta é uma conquista legítima e merecida e não se trata de uma vitória apenas de nossa equipe, mas de uma cidade inteira! Depois da Tomada da Tamarineira, percebo um certo empoderamento do recifense como cidadão.  Acho que este sentimento não é só meu, pois observei várias matérias que saíram na mídia sobre o avanço da consciência ecológica em nossa cidade. Sabemos que agora será uma nova etapa e que nossa luta não pára por aqui.
Muitas águas vão rolar, mas uma coisa para mim já é certa: depois da Tamarineira, esta cidade não será mais a mesma.
" O que for a profundeza do teu ser, Assim será teu desejo.

O que for o teu Desejo, Assim será tua Vontade.

O que for a tua Vontade, Assim serão teus Atos.

O que forem teus Atos, Assim será teu DESTINO."

(B. Upanishad IV, 4.5)





Manu, celso, Mari, Eu e Carmen ... e abaixo: Christoph Jung


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