PROPOSTA VENCEDORA DO 1º LUGAR DO CONCURSO NACIONAL DE PROJETOS PARA IMPLANTAÇÃO DO PARQUE DA TAMARINEIRA
Memorial Descritivo
Referência nacional em serviços psiquiátricos desde fins do século XIX, o Hospital Ulisses Pernambucano e seu lote densamente arborizado confundem-se com a história e a paisagem da Zona Norte do Recife. A evolução dos estudos médicos, as exigências da Reforma Psiquiátrica e o interesse de diversos setores da sociedade em apropriar-se daquele espaço levam este conjunto a um momento de transformação: o Parque da Tamarineira, agora desapropriado, tem o compromisso de abrir-se à cidade, desmistificar a loucura e oferecer à população lazer, cultura e educação ambiental, tudo isto convivendo com atividades hospitalares.
A fim de evitar a segregação espacial e garantir comunicação fluida e direta, as intervenções realizadas buscam clarificar a leitura do Parque e das construções históricas mais significativas através da remoção de barreiras e anexos sem qualidade arquitetônica. Dois grandes eixos se estendem desde a entrada principal do Parque até a Matinha, funcionando como largos passeios públicos. Entre estes eixos, um labirinto de vegetação arbustiva faz alusão à complexidade dos mistérios da mente humana e constitui-se num expressivo elemento visual e paisagístico do projeto. Sua estrutura abrigará obras de arte, bancos, espelho d’água e peças interativas que estimularão o caminhar e a descoberta.
Campanha de um Hospital Psiquiátrico - África do Sul
Perspectiva frontal do Parque
Extensos gramados remontam a antiga atmosfera de Sítio, de Pomar Urbano, enquanto playgrounds e equipamentos destinados à prática de exercícios físicos dão dinâmica aos diversos setores do Parque. O edifício do antigo CPTRA foi transformada na Casa do Bem Estar, com atividades para Saúde Integral e a Casa Paroquial, em uma livraria e lanchonete.
Para o setor hospitalar, a solução proposta foi a criação de um "Corredor da Saúde" voltado aos enfermos do CPTRA, da Emergência Psiquiátrica do Hospital Ulysses Pernambucano e ao Hospital Helena Moura. Este núcleo voltado à Av. Cônego Barata compreendendo três novos edifícios. O 1º e o 2º são intervenções em ruínas existentes onde funcionará a nova emergência e o 3º servirá ao CPTRA, com dois pavimentos e um estacionamento semi-enterrado com capacidade para 124 vagas para atender ao Parque, apesar de não possuir ligação direta ao Hospital.
Perfil dos edifícios históricos e novo conjunto hospitalar à esquerda
O principal conjunto arquitetônico, obra do arquiteto francês Victor Fournié, construída entre 1874 e 1883, possui 4 blocos organizados em cruz com espaçamentos em suas extremidades. Esses blocos serão restaurados e abrigarão os seguintes equipamentos:
- Museu da Tamarineira, que exibirá ao público a história do antigo Hospital, além de peças da Santa Casa de Misericórdia;
- Museu Sensorial de Arte Contemporânea, que abrigará exposições relativas às temáticas entre arte, corpo e mente;
- Centro de Convivência de Saúde Mental, espaço previsto no plano de Reforma Psiquiátrica;
- Salas para atividades vinculadas às Universidades;
- Cinemateca;
- Biblioteca;
- Auditório (175 pessoas); e
- Auditório (175 pessoas); e
- Pavilhão da Sustentabilidade.
Este último e novo edifício, construído nas proporções de seu traçado original, além de abrigar exposições sobre sustentabilidade e meio ambiente, será um exemplo prático de construção sustentável, tendo sido planejado com base na metodologia de avaliação ambiental de edifícios LEED - Leadership Environmental Energy Design.
Exemplo de fechamento móvel em painéis de bambu
Pátio Central
A sustentabilidade foi um aspecto que permeou este projeto como um todo. A área posterior, chamada Matinha, é um exemplar valioso na cidade onde a biodiversidade se manteve preservada durante décadas. Dessa forma, a área será palco de um programa de educação ambiental, onde haverá uma passarela de madeira que conduz ao observatório elevado, o qual servirá também como apoio às atividades educativas. Preservando as árvores existentes, foram criadas trilhas, estrutura para arborismo, sementeira e composteira no local para tratamento dos próprios resíduos.
Estrutura de passeio acima do solo natural - preservação da Matinha
Foi observado em visitas e estudos da área que o Sítio da Tamarineira possui uma característica que não se pode ocultar - a presença de um corpo dágua e de áreas alagadiças, assim como foi no passado.
“O sítio escolhido chamava-se Tamarineira, no Lugar Matinha, freguesia da Graça (...). Patrimônio dos órfãos da Santa Casa, ocupava uma área arborizada em parte e em parte alagada”. Oração do psiquiatra, Ulysses Pernambucano
Área alagada após chuvas de julho em 2011
Canal sub-dimensionado atravessa o sítio, ora embutido, ora aparente
O que em princípio pareceu ser um problema tornou-se um dos partidos do projeto uma vez que a proposta foi a reabertura do canal hoje embutido, chamado Jacarezinho, através de sua requalificação, despoluição de suas águas e redesenho da paisagem conforme seu traçado original, ou seja, em solo natural e vegetado.
Ao longo do “Riacho do Jacarezinho” um passeio, acessível e em desenho universal, interliga os acessos da Av. Rosa e Silva ao acesso da Av. Norte intercalado por pérgolas de madeira e bambu. O muro que limita o Parque neste trecho recebeu tratamento através de jardins verticais e painéis para instalações artísticas nas quais seriam registradas as conquistas socioambientais da população através dos tempos. Neste “Corredor da Cidadania” a conquista da Tamarineira merece especial destaque, uma vez que se trata de um dos mais importantes marcos históricos do avanço da consciencia socioambiental no Recife.
Abraço à Tamarineira em manifesto contra a construção do shopping em 2010
Sob o aspecto urbanístico, o Parque Público da Tamarineira deverá fazer parte da rota de integração de parques, prevendo a ampliação da rede pública de parques e sua conexão com o Plano de Parques Municipal e o Projeto Capibaribe Melhor. Sugere-se a criação de rotas lindeiras à margem norte do Capibaribe, associadas e compartilhadas a modais não motorizados, o que inclui a melhoria da circulação de pedestres e o incentivo ao uso de bicicletas como equipamento de deslocamento. O foco principal desta integração é promover melhoria significativa na qualidade de vida e estimular a apropriação do espaço público pela população recifense.
Este texto foi escrito pelos integrantes da equipe autora do projeto vencedor do concurso:
Carmen Cavalcanti, Celso Vinícius, Christoph Jung, Luciana Raposo, Manuela Maia e Mariana Ribas
Implantação do Parque